A Loja dos Suicidas

Sua vida foi um fracasso? Conosco, sua morte será um SUCESSO!

loja dos suicidas

Terminei de ler, de uma tacada só, A Loja dos Suicidas (Le magasin des suicides), do francês Jean Teulé, em publicação nacional da Ediouro (onde se lê de uma tacada só, leia-se numa viagem de ida e volta para o trabalho).

A sinopse do livro diz o seguinte: “Imagine uma loja onde são vendidos, há dez gerações, todos os produtos possíveis e imagináveis para se suicidar. As opções são infinitas: desde bombons envenenados até balas de revólver e cordas de enforcamento. Esta é a famosa Loja dos Suicidas da família Tuvache. Determinada a manter sua tradição e excelência de atendimento e qualidade, essa pequena empresa familiar prospera na tristeza e no humor negro até o abominável dia em que surge um adversário impiedoso: a alegria de viver!”

A tal loja está na família Tuvache há gerações, que hoje é comandada pelo pai (Mishima), a mãe (Lecrèce) e os filhos Marilyn (uma adolescente infeliz com seu corpo com medidas além dos “padrões”) e Vincent (um adolescente anoréxico com uma terrível e permanente enxaqueca, que o obriga a enfaixar a cabeça com ataduras, para tentar aliviar a dor que sente). Tudo vai muito bem com os negócios: os clientes saem de lá sempre bastante satisfeitos e ninguém nunca voltou para reclamar. Até a chegada do terceiro filho da família, Alan.

Alan não tem nada a ver com o restante da família, pois, ao contrário de seus pais e irmãos, que só não se matam porque têm que manter o negócio da família, Alan está sempre feliz, vê o lado positivo de tudo e sempre deseja um “até breve” a todos os clientes (adivinhe quem é o “adversário impiedoso” de que fala a sinopse do livro?).

A história se passa em um tempo e um local fictício e indeterminado, e é permeada de humor negro. É impossível não sentir pena do velho Sr. Mishima, sofrendo de depressão ao ver sua família e sua loja, que tantos bons serviços prestaram à sociedade, serem convertidas em algo além do que poderia imaginar qualquer um que achasse que a vida é algo que não merece ser vivido.

O livro tem um clima de sessão da tarde, com uma leitura fácil e divertida. O mundo criado pelo autor (onde uma partida de futebol perdida é sinônimo de aumento nas vendas no dia seguinte), os personagens que permeiam o livro e o final, realmente inesperado, são pontos fortes que fazem valer a pena sua leitura descompromissada.

E, sim, daria um ótimo filme de Tim Burton!

Nota: 7,0

Ficha Técnica
Título original: Le Magasin Des Suicides
Editora: Ediouro
Autor: JEAN TEULÉ
ISBN: 9788500024863
Ano: 2010
Número de páginas: 144

Tópicos Especiais em Física das Calamidades

tópicos especiais em física das calamidades

Este livro sempre me chamou a atenção, por seu título original e inusitado, mas sempre adiei sua compra. Até que o encontrei numa dessas feiras de livros por módicos R$5,00 e não resisti: afinal, se as únicas coisas interessantes no livro fossem o título e a capa, o prejuízo não seria grande (e sempre haveria o Trocando Livros para resolver o problema). Felizmente, o livro não é apenas mais uma capinha bonita na livraria…

O livro narra as memórias de Blue Van Meer durante seu último ano em uma das várias escolas secundárias por que passou durante sua existência, fruto das andanças de seu pai como professor universitário de Política Internacional. As memórias de Blue servem para exorcizar o fantasma de sua professora de cinema, Hanna Schneider, que é encontrada morta por ela, enforcada, aparentemente em uma tentativa bem sucedida de suicídio (não se preocupe, não estou contando nenhum segredo essencial da trama; esta informação nos é passada logo nas primeiras páginas e na orelha do livro).

A peregrinação de Blue e seu pai Gareth (um professor altamente erudito, responsável pelas melhores e mais hilárias tiradas do livro) pelo país têm início a partir da morte acidental de sua mãe, uma colecionadora compulsiva de borboletas. Como seu pai era convidado a dar aulas em diversas universidades, Blue seguia trocando de escola como quem troca de roupa, até que chegam à pequena cidade de Stockton, na Carolina do Norte, onde Blue cursará o ano no colégio St. Gallway, antes de seguir uma promissora carreira universitária em Harvard.

E é aí que começa nossa história: o encontro com Hanna Schneider, uma professora de cinema de St. Gallway, e com os Sangue-Azul, um grupo de estudantes que possuem uma mística própria dentro da escola e gravitam em torno de Hanna em jantares semanais regados a álcool, drogas e descobertas, é o estopim para uma mudança radical de comportamento em nossa querida Blue.

Os primeiros dois terços do livro, aproximadamente, narram o crescimento (ou a ruína) de Blue e dos Sangue-Azul. A partir dos jantares semanais na casa de Hanna, da descoberta dos segredos que tenta guardar e de seu comportamento instável, por vezes cercado de mentiras e fantasias, nos envolvemos cada vez mais no universo próprio criado pelo grupo e no relacionamento de Blue com eles e com seu pai, num vai-e-vem de acontecimentos que desaguam no suposto suicídio de Hanna.

A partir daí, acompanhamos a busca de Blue pela “verdade” por trás da morte de Hanna. E parece que começamos a ler outro livro…

Cada capítulo do livro recebe o nome de uma obra da literatura mundial (começando com “Othelo” e terminando com “Cem Anos de Solidão”), que refletem a trama ali contida e todo o livro é permeado por citações de livros, artigos e sites (fictícios ou não), assemelhando-se, em parte, a uma dissertação, sem ser, de modo algum, “científico”, e bem aos moldes característicos de uma cdf, como nossa narradora.

Apesar de algumas pontas que são deixadas um pouco soltas ao final do livro, a trama é envolvente, por vezes engraçada, muitas vezes dramática, e é uma leitura que nos prende cada vez mais por suas mais de 500 páginas (sim, você vai precisar chegar até quase o final do livro para saber o por quê do título), que valeu, não só os R$5,00 empregados mas todo o tempo gasto em sua leitura chacoalhante dentro dos ônibus nas idas e vindas do trabalho.

– Sempre viva a vida tendo a sua biografia em mente. – Papai gostava de dizer. – Naturalmente, não será publicada a menos que você tenha um Excelente Motivo, mas você ao menos viverá com grandiosidade. – Era mais que evidente que o Papai esperava que a sua biografia póstuma não fosse como a de Kissinger: o homem (Jones, 1982) ou mesmo como a do Dr. Ritmo: a vida com Bing (Grant, 1981), e sim algo mais no estilo do Novo Testamento ou do Corão.

Nota: 8,5

Ficha Técnica
Título original: Special Topics in Calamity Physics
Editora: Nova Fronteira
Autor: MARISHA PESSL
ISBN: 9788520920701
Ano: 2008
Número de páginas: 528